5 de jun. de 2014

EXISTE CULTURA EM ITAQUERA

Existem muitos pontos de carência no nosso bairro, e isso não é nenhuma novidade, infelizmente. O fato de vivermos em uma região periférica, já nos deixa lá atrás na fila de atendimento do poder público, e sentimos isso na pele todos os dias. Um bom exemplo de ausência em Itaquera é a cultura.
   Você já parou para pensar que quase não temos eventos culturais por aqui? Pois é, são raras as atividades que encontramos no bairro relacionadas ao tema cultura. E também, não recebemos muito incentivo para reverter essa situação.
   Usando o cenário atual como exemplo, vemos diversas mudanças locais, mas nenhuma voltada para um espaço onde arte e cultura possam ser compartilhadas. É justamente essa necessidade que mobiliza moradores na luta pelo acesso a diversidade cultural, sem que para isso seja preciso atravessar a cidade até bairros vizinhos ou para o centro.

Foi assim que surgiu em 2012, de forma independente, a CACI – Comissão de Articulação Cultural de Itaquera, quando a Casa de Cultura Raul Seixas sofreu uma ameaça de fechar as portas e encerrar suas atividades. Foi neste período que então os moradores se reuniram para defender e expor a importância do espaço e o futuro cultural do bairro. Antônio Primus, idealizador da comissão, nos conta que além de defenderem a cultura, a CACI também defende a preservação da memória do bairro. Toda última sexta-feira do mês é dedicada ao “Sarau na Casa do Chefe”, que acontece na antiga casa do chefe da estação de trem, construída na década de 30, e conta com a participação de artistas locais e de outras regiões da cidade. O sarau também divulga o futuro do espaço como Casa da Memória de Itaquera: “Criamos essa expectativa nas pessoas, fazendo com que os moradores de Itaquera tenham a oportunidade de conhecer o espaço”, explica Primus.

 Além do sarau, que chega à sua quinta edição em maio, a CACI também organiza uma agenda cultural. Falando assim, tudo parece muito simples e fácil, mas não é. Os eventos, como o realizado na Casa do Chefe, são totalmente arcados pelos idealizadores, que contam também com a colaboração dos participantes, e ainda assim, é preciso muita força de vontade para prosseguir com os projetos. “Fazer cultura é militância, é um ideal”, ressalta Primus.
   Artistas locais, como o agitador cultural David Oliveira acreditam na importância de ocupações culturais como a da casa do chefe: “O bairro precisa de outros lugares como esse, que fomente a cultura e que traga os moradores para trocarem anseios e sonhos, para questionarem mais o espaço onde vivem, tanto com um debate, ou até mesmo com uma poesia”, diz David.

Por que a Casa do Chefe? 

Antigamente era comum algumas estações de trem possuírem uma casa, que se destinava ao chefe (engenheiro) que administrava a estação. Itaquera teve a sua estação ferroviária construída em 1930, e demolida em 2004 pela prefeitura de São Paulo, para atender projetos de desenvolvimento, como a ampliação da Radial Leste. Acredita-se que quando a CPTM – Companhia Paulistana de Trens Metropolitanos comprou as estações ferroviárias da RFFSA – Rede Ferroviária Federal S.A., a casa não foi incluída no contrato, e por isso permaneceu em seu lugar.
A “Casa do Chefe” ficou a míngua por muito tempo, prestes a desabar devido sua situação de abandono. Em determinado período, quando esquecida pela prefeitura, foi usada por camelôs que exerciam o comércio nas ruas em torno.












   Em 2012 foi reformada, mas continua “parada” no tempo, apenas com algumas atividades. Por ser um patrimônio histórico, de resistência e extrema importância para nosso bairro, é que se faz um ótimo espaço para investir em cultura. Tony Cotta, também articulador da CACI, conta porque o local foi escolhido para as intervenções do sarau: “através desse movimento, queremos que as pessoas se conscientizem de que existe esse espaço e que é possível a gente fomentar a memória do bairro e também a cultura, porque está tudo ligado”. Cotta também ressalta que o intuito das reuniões do CACI é verificar onde o que falta no bairro para poderem trabalhar ainda mais nesse sentido.

Viva a Casa de Cultura Raul Seixas!

   Conhecido como o quintal dos habitantes da Cohab José Bonifácio, o Parque Raul Seixas é uma ótima opção de lazer, ainda mais para as crianças. Além disso, o parque que homenageia o grande Maluco Beleza também conta com uma casa de cultura. Isso mesmo, aquela já falada no primeiro texto desde post.
   A Casa de Cultura Raul Seixas é destinada à manifestações culturais, e já foi palco de muitos eventos. Porém, atualmente quase não oferece atividades para a população e está sofrendo com o abandono e descaso público. Foram especulações sobre seu possível fechamento que deram origem ao CACI. Em meio a isso, outros grupos também resistem e levam cultura e entretenimento para o bairro, como o Coletivo ALMA – Aliança Libertária Meio Ambiente, que surgiu nesse espaço cultural, originado da necessidade de falar sobre cultura, lazer e áreas verdes na região, além de realizar teatro e ações socioambientais. O ALMA apresenta encenações como a peça infantil “Foi tudo por terra”, que questiona de maneira muito dinâmica e divertida as questões ambientais. Suas apresentações são ao ar livre, em parques como o próprio Raul Seixas, onde chama mais a atenção do público.
   Marcello Nascimento, representante do coletivo, lembra que um dos problemas de ser fazer cultura em Itaquera é justamente esse, “aqui ainda há poucas atividades culturais, é um processo que tem que ser continuado para que tenha formação de público”. Quando questionado sobre o incentivo que os grupos culturais recebem para realizar suas manifestações, Marcello ressalta o descaso e os poucos recursos investidos nas regiões periféricas, “muitos grupos deixam de existir. É difícil demais, tem que correr atrás da sobrevivência”. De fato, para “fazer cultura”, não basta apenas ter dom, é preciso também ter coragem e força de vontade.
   Fazer cultura é a militância, a história e a sobrevivência citadas acima, que encorajam a luta pela conquista de um espaço para que os mais de 520 mil habitantes tenham ainda mais motivos para resistir em Itaquera.

Ariane Costa

fonte http://itaquera360.wordpress.com/2014/05/06/cultura_em_itaquera/

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